A campanha para salvar o Belas Artes, em São Paulo, não foi suficiente. O cinema irá fechar não por falta de patrocínio, mas porque o proprietário do imóvel quer o espaço de volta para abrir uma loja. Os 32 funcionários já receberam o aviso prévio. “Venceu a visão mesquinha”, disse à reportagem da Folha, André Sturm, que administrava o Belas Artes junto com a O2, do cineasta Fernando Meirelles. O espaço tem de ser entregue até fevereiro.
Patrimônio da cidade
Fundado em 1952 como Cine Trianon e batizado de Belas Artes em 1967, o espaço foi reformado e ampliado na década de 80. Suas salas ganharam nomes de artistas brasileiros: Heitor Villa-Lobos, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Aleijadinho, Mario de Andrade e Carmen Miranda.
A Pandora, de Sturm, e a O2 assumiram o cinema em 2003 e, um ano depois, o HSBC começou a patrocinar o espaço. A parceria foi encerrada em maio de 2010.
Fonte: FolhaPress.
Balada no cinema
Em 2004, o Belas Artes ofereceu mais uma alternativa à agitada noite paulistana: o Noitão reunia, a partir da meia-noite, interessados de todas as faixas etárias para a assistir 3 filmes, sendo que um era surpresa.
“Divulgado pelo boca -a boca, fiquei sabendo do noitão por uma amiga que gosta de Godart e Kurosawa. Chegar ao cinema à meia noite é estranho, mas logo você vê a concentração de pessoas antenadinhas, cults de calça xadrez e aqueles tipos com cara de quem faz Filosofia na USP e só aí você percebe que não estavam tirando onda da sua cara, o noitão existe. Claro, no local concentram-se tambem alguns publicitários e com certeza estudantes de cinema. Encontro a amiga cult na bilheteria, pagamos o valor de um único ingresso e de cara já sabemos quais são os dois primeiros filmes que vamos assistir – eram filmes da grade de programação do cinema. O terceiro filme era surpresa. Não lembro dos filmes que assisti. Lembro dos filmes surpresas em algumas ocasiões (provavelmente algum deles foi no Unibanco e não no Belas artes). Fui surpreendido positivamente pelo clássico A Batalha de Argel, de 1966, que possui cenas que inspiraram cineastas de filmes mais modernos. Outra surpresa foi Deu Zebra, filme de uma zebra que quer ser cavalo de corrida – pelo menos acho que é isso, pois eu sai no meio devido a minha baixa tolerância a filmes com animais protagonistas. Outro filme foi Harry, um filme francês tentando ser Hollywood sobre um psicopata. Eu dormi nesse confesso e acordava sempre nas cenas de assassinato com o som altíssimo. A experiência sempre foi boa, o grupo de pessoas eram amantes de cinema e os papos sempre eram agradáveis. No noitão do Belas Artes rolava um sorteio de brindes algumas vezes. Eu nunca ganhei nada. No Noitão do Unibanco tinha um Dj nos intervalos dos filmes. E no Belas Artes dizem às seis da manhã tinha um café da manhã. Eu, infelizmente, nunca cheguei a ver o fim do Noitão e tomar o pingado com pão na chapa”, Abelardo Barbosa, colaborador deste e do PromoPlanners.
“Então, fui no Noitão Belas Artes em meados de 2010, adorei, fui assistir o “Noitão Lado B” um especial com 4 filmes inspirados nos clássicos da década de 70, filmões populares, produções baratas. Tarantino com o sensacional A prova de morte, depois Tokyo First a Epidemia e a surpresa que sempre tem no final. Fiquei triste com esta história que vai fechar. Onde fica a cultura acessível? E os filmes fora do circuito comercial para os cinéfilos de plantão? A cidade vai perder muito com tudo isso“, Meggy Araújo, jornalista e mulher.
” Ouvi dizer que vai fechar; é realmente uma pena, se quer saber. Era uma opção barata de lazer para as sextas que você simplesmente não está na vibe de encher a cara ou dançar. Tudo meio informal, mas pra lá de organizado. Serviço bacana, muito limpinho. Gente hype, gente estranha, gente bonita: era mesmo divertido socializar com os camisas xadrez e as scarpins vermelhos. E os filmes, claro. Polêmicos, esquisitos, divertidos. Lembro de ficar encantado com Rumba, lembro de dormir no chão do cinema em The Unborn, lembro de não desgrudar os olhos de Trouble Every Day. Todos completavam a experiência cinéfila que, veja a ironia, pouco tinha a ver com os filmes em si. Era tudo sobre amigos, sobre o café nos intervalos, sobre os sorteios de camisetas e filmes, sobre o lanche da manhã depois da maratona. Uma experiência completa, assim, com 11 letras. Enfim, era bem gostoso. Uma pena que tenha acabado, meu deus. Lá se vai uma fonte certa de cultura e diversão acessível. Resta torcer para surgir nessa cidade algo a altura. Será?”, Cacau Lima, estudante de Comunicação Social.
“#belasartes fechar é triste, sentimento de “venceu a ignorância”, Daniela Ramos no twitter.
“Foram divertidissimas todas as vezes que fui no Noitão. Era uma oportunidade para juntar uma galera legal e assistir bons filmes – praticamente uma maratona cinematográfica. Ótima relação custo benefício. Inclusive, alguns filmes como The Rocky Horror Picture Show, entre outros, eu não teria visto se não fosse lá. O pessoal que ia nas seções também contribuíam para deixar o Noitão com um clima de “Parque de Diversões para quem gosta de cinema”. O Noitão, independente do fim do Belas Artes, é uma baita idéia que deveria evoluir e agregar mais coisas no pacote oferecido”, Tercio Silveira.
Programação Especial
Os administradores do Belas Artes planejam, além de procurar um novo local, um especial de celebração da trajetória deste cinema, com os filmes mais importantes já exibidos.
Quem mais vai para fila, hein, Cris Camarena? o/