Este blog foi acompanhar o encontro comandado pelo jornalista, crítico de cinema e professor Sérgio Rizzo na Casa do Saber. Não dá para compartilhar os detalhes sórdidos da conversa de quase 3 horas, mas vale dar atenção a alguns pontos:
Curiosidades
Eu não sabia e talvez você também não saiba que:
- “O Oscar é somente o rabo que abana o cachorro”, disse Rizzo. As atividades da Academia vão além da maior premiação de cinema (norte-americano) do mundo. Ela possui uma cinemateca, promove pesquisas e possui uma área de educação que, entre outras coisas, oferece um guia para professores sobre artes e ciências cinematográficas. Veja no site.
- A Academia foi fundada em 1927 por 36 membros, cujo objetivo inicial era fazer desta entidade uma central única, um sindicato. A presença de produtores e executivos da indústria esvaziou esse propósito e daí surgiram as outras associações específicas, como a de diretores, roteiristas etc, cada um defendendo o seu pão de cada dia.
- Hoje a Academia não se mete em assuntos trabalhistas, políticos e econômicos, focando-se em artes e ciências.
- Em 11/05/1927, 230 profissionais participaram do jantar, que custou 100 dólares por cabeça e reuniu os primeiros membros da entidade sem fins lucrativos. A Academia surgiu, aliás, com cinco grupos disntintos: diretores, roteiristas, atores, produtores e técnicos.
- A primeira entrega do Oscar foi feita em maio de 1929.
- Para ser indicado, o filme precisava : 1) ser lançado em LA; 2) ser lançado entre 1º de agosto e 31 de julho. Essa regra, porém, sofreu sua primeira alteração na 6ª cerimônia; hoje restringe-se a filmes lançados entre 1º de janeiro e 31 de dezembro.
- A história do Oscar divide-se em dois períodos: de 29 a 51, quando os eventos eram privados; de 52 aos dias de hoje. A premiação é hoje um programa de TV, atingindo pessoas em todas as partes do mundo. Uma única alteração foi feita: antes a cerimônia acontecia às segundas.
- A Academia conta hoje com 6,5 mil membros, dos quais cerca de 5,7 mil têm direito a voto. Não se sabe, porém, quem são eles. “Tem que pedir para o nosso amigo do WikiLeaks”, brincou Rizzo.
- Os 6,5 mil membros estão divididos em 15 grupos (não só aqueles 5 originais). Nem os Relações Públicas foram esquecidos.
- Antes qualquer indicado ao prêmio tornava-se membro; hoje o profissional precisa ser convidado.
- Entre os brasileiros que fazem parte desta seleta lista estão Bráulio Mantovani, Waltinho Salles e Fernanda Montenegro.
- No primeiro ano, os vencedores do Oscar foram anunciados três meses antes da cerimônia de entrega. Do segundo ano até a década de 40, a imprensa era informada com antecedência sobre quem eram os ganhadores com a condição de que a divulgãção da lista só ocorreria horas após o início da premiação. A mudança ocorreu porque o LA Times furou o embargo. Desde então,os jornalistas só ficam sabendo quem são os vencedores juntos com o público.
- Vários fatores implicam na escolha dos indicados – inclusive, a época em que o filme é lançado e que favorece mais a lembrança por parte dos membros da Academia. É o velho recall.
O 83º Oscar
- Reúne 56 indicados, sendo que 10 obras foram indicadas a melhor filme (retorno ao formato original).
- Entre as 50 maiores bilheterias do ano, apenas 7 estão entre os indicados a melhor filme. Sucesso de público, Alice, Homem de Ferro, Eclipse e Harry Potter, por exemplo, ficaram de fora. Para Rizzo, isso deixa claro que o Oscar valoriza mais as artes e a ciência. É, porém, uma premiação sobre o universo da indústria norte-americana e não sobre cinema.
- Dos 10 indicados, Rizzo aposta em Bravura Indômita e A Rede Social. O primeiro faz uma releitura de um faroeste, enquanto o segundo é uma deferência ao Fincher, que é odiado em Hollywood. Para ele, o filme é tão bem organizado que as pessoas não percebem o trabalho fantástico feito pelo diretor.
- Cisne Negro deve garantir o Oscar a Natalie Portman. A narrativa, entretanto, não o surpreendeu tanto, pois segue a linha já apresentada por Darren Aronofsky em Pi e Réquiem para Um Sonho. Ele não vai além.
- A presença de Inverno da Alma na lista surpreende por valorizar um registro sombrio da sociedade americana, algo do qual Hollywood se afastou e que remete mais aos anos 70.
- O Vencedor também segue esse mote, principalmente ao mostrar aquela família disfuncional. Rizzo ressaltou o trabalho de David Russell, com uma direção de arte feita para enfeiar, com cortes bruscos que remetem a pequenos golpes. Aposta, ainda, que o filme deve garantir o Oscar de melhor ator coadjuvante a Christian Bale.
- Embora trate de um tema atual, Minhas Mães e Meu Pai é mediano, conservador e com fortes valores de família.
- Ignorado como melhor diretor, Nolan marca presença nas categorias de melhor roteiro e filme por A Origem. A indicação nesta última categoria é, para Rizzo, um reconhecimento da Academia ao trabalho dele. É sabido que a entidade torce o nariz para diretores com um portfólio mais comercial. Fizeram isso, por exemplo, com Spielberg. “Christopher Nolan precisa fazer a sua Lista de Schindler”, lembrou o crítico.
- 127 Horas é um bom trabalho de Doyle, mas que não merece o Oscar. Basta o reconhecimento.
- A indicação de Toy Story 3 como Melhor Filme é uma tentativa de atrair a atenção de diferentes públicos. A categoria certa desse filme é a de melhor animação. E é nela que deve garantir a sua estatueta.
- O Discurso do Rei é um bom filme, mas poderia bem ser uma peça de teatro, pois é dependente do trio de atores. Prova disso, lembra Rizzo, é que a obra perdeu o BAFTA para A Rede Social justamente porque o filme tem mais apelo para quem tem um distanciamento, isto é, não conhece a história a fundo como os britânicos. Colin Firth, porém, não deve sair com as mãos abanando como no ano passado.
CLAP! CLAP! CLAP!
No final do encontro, Rizzo contou que, para ele, A Ilha do Medo deveria estar entre os cinco melhores filmes do ano. E eu concordo tanto com isso que fiquei até com vontade de dar um upa nele. 😉
Curto, mas bom encontro.
Bora ver o Oscar!